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Pr. André Pereira

O Altar e a Rotina: inseparáveis

“Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!" (Salmo 19:14).


Nosso amigo e mestre Ziel Machado tem uma frase que é frequente em suas falas: “Quem falha no altar, falha na vida". Ele afirma que aprendeu esta máxima na história de Caim e Abel. Uma falha na teologia nos conduz a falhas éticas. Uma vida de adoração equivocada pode nos levar a "matar o irmão no campo". Os textos do Calendário Litúrgico para hoje não incluem a narrativa de Caim e Abel, mas esta máxima certamente está presente.


O texto do Antigo Testamento, a revelação dos “Dez Mandamentos”, em Êxodo 20:1-17. A ênfase é claramente ética, instruindo o povo para um estilo de vida que nega o Egito e os prepara para a liberdade na terra prometida.


É importante notar, no entanto, que nem a libertação (Êxodo), nem a Lei (Dez Mandamentos e tantas outras), nem a terra prometida (Canaã), são um “fim em si mesmos”. A adoração é. Isto fica claro tanto antes quanto depois do Êxodo e a conquista da terra. Antes do Êxodo, Deus diz ao Faraó por meio de Moisés: “Deixe ir o meu povo, para prestar-me culto no deserto” (Ex. 7:16).


O Sinai, no deserto, é o ambiente da adoração, da densidade da presença de Deus, da consagração e da Aliança. É também o ambiente da instrução, da ética da liberdade, da revelação da Lei. Mais tarde, na História de Israel (Juízes, 2Reis...), o povo experimentará o Exílio. A falha na adoração leva à falha na vida, e leva à perda da terra e da liberdade. Consagração significa vida e altar conectados, inseparáveis.


O texto do Novo Testamento também aponta para isto. É o relato da “purificação do templo”, em João 2:13-22. Jesus se ira com os mercadores que ocupam o Pátio dos Gentios na área do Templo: “Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!” (v.16). A religião corrompeu-se em barganha e negócio. Você percebe o que aconteceu?


Os judeus estavam tão preocupados em ter seu próprio momento com Deus, seu conforto nos sacrifícios, seu lucro com o câmbio de moedas e venda de animais, que atulharam o Pátio dos Gentios com produtos, impedindo que os estrangeiros se achegassem a Deus. Preocupado consigo mesmos, roubaram a glória de Deus.


A casa de oração para todos os povos foi transformada em um covil de ladrões (Mc. 11:17)! E, se as preocupações diárias e o estilo de vida não refletem mais a Deus, prejudicam a missão de Deus... a adoração está comprometida. Falhar na vida também é falhar na adoração. Se, excessivamente preocupados conosco, não direcionamos a vida para Deus, o templo e a religião não nos aproximarão de Deus – pelo contrário, nos acusarão de ladrões!


É por isso que, no texto poético (Salmo 19), que o calendário nos traz hoje, o salmista diz: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço! Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão. Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!”.


Após contemplar os ritmos e a grandeza da Criação (v.1-6), o salmista exalta ainda mais a Lei de Deus (v. 7-10), até que se volta pra si. Ele pede ajuda para identificar seus erros e libertação de seu pecado. Ele deseja que a meditação do seu coração seja continuamente agradável a Deus - na linguagem do apóstolo Paulo, ele que ser um sacrifício vivo. Ele quer ser purificado, para que a vida como um todo seja um culto, um altar.


É esta realidade que Jesus conquista e nos oferece. O corpo de Cristo é o verdadeiro templo, e ele nos convida a fazer parte deste corpo, unidos a ele. Uma vida não fragmentada: altar (culto) e rotina (vida), vivendo a liberdade da adoração à Deus, que nos libertou (Êxodo). Altar e rotina, inseparáveis. Que a motivação de nossa mente, sentimentos e ações sejam sempre agraváveis a Deus!

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