Uma grande multidão aguardava Jesus às margens do Lago de Genesaré. O vento fresco e úmido soprava aliviando o sol quente da região. Jesus havia estado do outro lado do lago anunciando a Palavra e revelando os sinais miraculosos. Agora retornava e ao chegar à margem, percebeu a intenção do coração daqueles homens. Eles o procuravam não por causa da obra que realizara, mas simplesmente por causa do pão que havia multiplicado.
“Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará” (Jo 6.27). Compreendendo o momento, Jesus quis deixar claro o tipo de relação que deveriam ter e fez um duro discurso. E aqueles que estavam encantados com as benesses recorrentes do seguir ao Mestre perceberam que a coisa é bem mais séria do que se imaginava. “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” Jesus não deixou por menos; apertou um pouco mais o nó: “Isso os escandaliza? (...) O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. Contudo, há alguns de vocês que não crêem”.
O texto descreve a resposta daquela multidão ao Senhor: “”Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo” (66). O discipulado é algo realmente sério. Não somos convidados a seguir um Mestre que nos facilita a vida. Ao contrário: seguir a Jesus traz implicações para toda a nossa vida. Não é um adendo, mas uma nova diretriz. Por isso quem faz as exigências nesse “contrato de fé” não somos nós, mas Ele. Ele é o Senhor, o Mestre, o Rei; nós somos seus seguidores, seus discípulos, seus servos.
A Bíblia deixa bem clara essa relação: somos chamados de “doulos” – somos escravos. E escravo não tem direitos. Isso mesmo! No início da minha caminhada cristã, deparei com alguns versículos que me confrontaram: “quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida por minha causa a encontrará” (Mt 10.37- 39).
Palavras duras de um Senhor que reivindica exclusividade de seus seguidores. O discipulado é algo realmente radical. Não podemos ter sobre nós outros amores primeiros que não o Senhor Jesus. Todo o nosso amor por nossos pais, filhos e qualquer outra pessoa deve ser o resultado de um amor primeiro ao Deus de nossas vidas. Esse discurso lhe parece duro? Por isso foi que Jesus disse: “ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai” (Jo 6.65). Nós não temos o direito de abaixar esse preço, oferecendo um pacote básico ou econômico no amplo mercado da religião. Não há promoções. O custo do discipulado é realmente alto!
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