Um belíssimo texto intitulado “Uma carta de Jesus àqueles que o amam”, escrito no século XVI, diz o seguinte: “Uma coisa da qual eu gostaria de adverti-lo de forma especial é da sua constante tendência ao desencorajamento e frustração, pois você se desespera ao perceber o peso de suas faltas, e suas firmes resoluções em fazer as coisas de forma diferente redundaram em nada. Eu conheço o seu humor quando você se assenta sozinho, ou se levanta infeliz, em um puro estado de tristeza. Você não se move em minha direção, mas desenvolve um sentimento de que tudo o que você fez, todo o seu esforço, redundou em perda e esquecimento. Este sentimento que se confunde com o desespero e com a auto piedade, na verdade, é uma forma de orgulho. Você fundamentou-se numa forma de segurança que o levou a queda, porque você confiou na sua força e habilidade...Na verdade, eu não quero que você ponha sua confiança nas suas forças, habilidades e planos, pelo contrário, quero que você desconfie dessas coisas e de você mesmo, e ponha a sua confiança em mim e nada mais. Quanto mais você confiar em você, mais você se tornará escravizado e entristecido. Você ainda tem uma lição mais importante para aprender: Sua confiança própria não o ajudará a se manter firme. Você está se firmando num pé quebrado. Você não deve perder a esperança em mim...Minha misericórdia é infinita.” (John of Landsberg).
Poderíamos dizer que o texto se refere ao padrão de comportamento de nossa sociedade moderna. Eu faço e eu realizo tudo com o que eu sonhar, basta que eu queira. Vivemos, cada dia mais, numa sociedade centrada no eu, ainda que o discurso, falso e hipócrita, seja a empatia e o amor ao próximo. Isso, na realidade, não é possível e a simples razão para tal afirmação é que, pelo ponto de vista bíblico, só podemos produzir algo, de fato e de maneira virtuosa, quando morremos.
Jesus disse: “...se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto.” (Jo 12.24). A afirmação de Jesus contradiz a sociedade de pessoas auto centradas, que desejam ser livres fazendo o que bem entendem. Isso não é liberdade, como diz a carta acima; isso é escravidão. Podemos experimentar a verdadeira liberdade quando nos livramos da nossa carne mesquinha, corrompida e apodrecida. Paulo entendeu isso muito bem quando exclamou: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). O evangelho sempre irá caminhar em sentido contrário ao pensamento humano. Não nos esqueçamos disso!
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