Quando eu era criança me lembro das missas do domingo de ramos, quando as pessoas levavam ramos de palmeiras. Eu não entendia o sentido aquilo. Apenas me recordo terem me falado sobre o poder daquelas folhas, depois de benzidas. Eram um poderoso escudo contra os temporais. Bastava queimá-las e a tempestade logo passava. Depois da minha conversão e a minha vinda para a igreja evangélica não vi nas nossas liturgias muita coisa sobre o domingo de ramos. Parecia ser uma data ignorada pela maioria das igrejas evangélicas.
Quando passamos a seguir o calendário litúrgico na IPLN esses eventos bíblicos adquiriram uma força muito grande para mim. Em especial cito a Quaresma e os eventos ligados à Paixão e ressurreição de Cristo Jesus. A Quaresma é o período compreendido entre a quarta-feira de cinzas até o domingo de Ramos, que antecede o domingo de Páscoa. É marcado como um tempo de reflexão, de quebrantamento, arrependimento, jejum e oração. Assim, o Domingo de Ramos é a reta final dessa fase no calendário litúrgico.
O acontecido na entrada de Jerusalém, descrito em João 12, é tão significativo que se encontra nos quatro evangelhos. Depois da ressurreição de Lázaro (capítulo 11), o Sinédrio concluiu que precisava matar Jesus (11.51,53). Havia se tornado uma ameaça para a religião judaica. Jesus e os discípulos então estrategicamente se retiram para Naim, a região vizinha do deserto. Mas chegando a Páscoa, Jesus decide ir a Jerusalém. A caminho passa pela casa de Marta, Maria e Lázaro, onde o grande milagre se deu. Ali são convidados para um jantar.
Uma multidão se aglomerou vindo de Jerusalém e arredores de Betânia. Queriam ver Jesus e Lázaro juntos. E muitos passaram a crer em Jesus naquele dia. O Sinédrio percebendo a força popular que crescia em torno de Jesus, decidem não mata-lo somente, mas também a Lázaro. Jesus estava consciente daqueles acontecimentos. Já havia alertado aos discípulos que “era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21).
No outro dia, na entrada em Jerusalém é recebido por uma enorme multidão que toma ramos de palmeiras, lança mantos ao chão, e saem ao encontro de Jesus clamando: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor que é Rei de Israel!”. Uma saudação, encontrada no Salmo 118.25,26 dada aos reis quando voltavam de suas batalhas. Jesus vinha montado num jumento, acompanhado de seus discípulos. Quando o povo faz aquilo, estão convictos de que estão diante do Messias político, capaz de salvá-los da força do gigantesco e poderoso Império Romano. Essa é a expectativa que nutrem acerca de Jesus.
É interessante perceber a sobriedade de Jesus sobre o que está acontecendo. Há uma expectativa de que Ele seja o Messias. Não nega essa realidade, pois é o próprio Messias. No entanto, a maneira como se põe diante da expectativa da multidão não é exatamente como esperavam que fosse. Zacarias 9.9 traz uma profecia que nos explica isso: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em um jumento, num jumentinho, cria de jumenta”. O Rei que entra montando, não sobre um cavalo branco de guerra, mas sobre um jumento, não é o rei da guerra, mas o Rei da Paz!
Aquele que “anunciará paz às nações”. O Senhor virá humilde, montado num jumento, porque Ele é o Rei da Paz. Outro fato que nos chama a atenção: “Ele anunciará Paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até as extremidades da terra”. Esse rei não seria um libertador nacionalista, mas um Rei universal. O povo de Israel estava equivocado. Sua visão estreita acerca do reino de Deus havia garantido a eles uma compreensão equivocada da pessoa e da obra de Jesus. Jesus não era somente o rei de Israel, mas o Senhor sobre todo o mundo, de toda a terra.
Ao celebrarmos nesse dia o Domingo de Ramos não devemos concentrar nossa atenção nem nos significados mágicos dos ramos, nem passar por esse acontecimento, nos esquecendo do seu grande significado. Estamos diante de Cristo Jesus, o grande Rei que veio anunciar paz ao mundo em conflito. Aquele que é o grande Rei sobre todo universo. É uma data para saudar a Jesus Cristo com o “Hosana ao que vem em nome do Senhor”, nos atentando que estando em Jerusalém, um pouco mais, o Cordeiro de Deus imaculado será levantado numa cruz como o Rei que veio para nos reconciliar com o Pai por meio de sua morte e ressurreição.
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