Depois de Jesus multiplicar os pães e os peixes, a multidão que foi alimentada ficou tão impressionada com milagre que quiseram torná-lo rei. Eles imaginaram que Jesus seria um tipo de novo Moisés, cumprindo a profecia de Deuteronômio 18.15-19. Assim como Moisés havia libertado Israel do Egito, o novo Moisés os libertaria de Roma. Jesus, contrariando o anseio daqueles homens, empurrou seus doze discípulos para o barco e os fez seguir para a outra margem. E depois subiu ao monte sozinho para orar.
Os discípulos já estavam longe, enfrentando o mar revolto na alta madrugada, quanto Jesus veio ao encontro deles andando por sobre o mar. Na outra manhã a multidão achou estranho que Jesus não estivesse mais ali. No dia anterior viram que só havia um barco e que Jesus são tinha seguido com os discípulos. Então decidiram seguir para Cafarnaum para procurá-lo. Chegando, o viram e perguntaram: “Mestre, como você chegou aqui?” (25). A resposta foi estranha: “Vocês estão me seguindo não é por causa dos sinais que viram, mas porque comeram e ficaram satisfeitos” (26).
Com isto Jesus estava mostrando que o interesse que tinham pelos milagres, não era por causa que eles revelavam a Jesus como Senhor, nem porque criam na Palavra que pregava, ou mesmo porque estavam dispostos a se render ao seu governo. Eles estavam interessados apenas em saciar o desejo de seus próprios estômagos. Esperavam que Jesus pudesse resolver os seus problemas e lhes conceder uma vida feliz e tranquila neste mundo.
E é essa a expectativa de muitos seguidores de Jesus ainda hoje. Qual seu real interesse na pessoa de Jesus? Você o segue porque ao olhar para os seus milagres pensa que encontrou o “gênio da lâmpada” que tornará sua vida mais fácil e sem problemas? Ou você o segue porque os milagres evidenciam que Ele é o Filho de Deus, que te chama a um discipulado que implica em tomar a sua cruz dia a dia e a segui-lo fielmente, mesmo que isso lhe custe a própria vida? Jesus completou: “Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará” (27).
Essa afirmação nos parece extremamente radical. Como viver nesse mundo sem se preocupar com comida ou bebida? Devemos deixar de trabalhar nas funções que desempenhamos para ficar por conta de oração e meditação? É claro que não é isso que Jesus está dizendo. Ele está mostrando que se o nosso motivo nesta vida é tão somente construir uma estabilidade nesse mundo, adquirindo bens e acumulando riquezas, estamos gastando o melhor de nós para edificar sobre um fundamente que não permanecerá. Os bens que adquirimos aqui não são eternos.
Quando dedicamos grande esforço e os conquistamos percebemos que eles são perecíveis e frágeis demais. Estão sob a ação da ferrugem, do desgaste natural, do mofo, da instabilidade da economia e sob os olhos do ladrão. No entanto, quando trabalhamos por aquilo que não se perde, quando dedicamos tempo e amor por outros valores e anseios – o Reino de Deus e a sua justiça – estamos reunindo tesouros que jamais se desgastarão e que nos acompanharão para a eternidade. As demais coisas como comida, bebida, roupas e tudo mais, não devem ser a razão da nossa busca nesta vida aqui. “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas (essas demais coisas) lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33).
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